domingo, 14 de junho de 2009

O SABOR ACRE DA VIDA


Dário Teixeira Cotrim

Estamos diante do belo! O belo em todas as diversidades da escrita! Por isso, estamos diante do belíssimo livro Sabor Acre da Vida, do ilustre poeta Waldir de Pinho Veloso, um escritor opulento de talento e de esperança. Este livro é sem dúvida alguma uma importante coletânea de poesia com frases modernas e simples; de poesia com o doce encanto da poesia; de poesia romanceada sem palavrório e sem a eloqüência da paixão desenfreada dos poetas mortais. Por tudo isso, em suas páginas, o verso jorra com generosidade e vem atrelado na aliteração musical das palavras, buscando sempre fixar os aspectos lógicos do que realmente é a arte do belo.
O Sabor Acre da Vida ainda é um conjunto de poemas onde o belo circula com profunda simpatia nos meios literários. Por aí se vê como é importante construir trovas de amor e de amigo. No poeta, no verdadeiro poeta, seja ele qual for tudo é observado com a devida emoção dos que amam apaixonadamente. Até porque ele consegue repassar para o leitor uma nesga de êxtase de seus sonhos e de suas fantasias sem derruir os momentos lépidos naquilo que escreve. Nota-se que, quando o poema soa é o poeta se manifestando.
Quanto ao vocabulário, o autor destaca que, embora predominem os termos regionais e uma linguagem igualmente regional, no livro o Sabor Acre da Vida não é incomum encontrarem-se expressões elevadas e até mesmo desconhecidas como as do poema Oculomancia (leitura dos olhos): romanê (dialeto dos ciganos), súknias (vestes femininas), gavinas (mulher não-ciganas), ofisas (locais onde as ciganas olham a sorte), devel (Deus), gadjo (homem não-cigano) e o título do seu primeiro livro de crônicas: Condromalácia (ou seja, lesão na articulação patelo-femural). Ainda assim, no geral, sejam os seus livros de linguagem bastante simples.
Os primeiros poemas do livro trazem vários opus o que significa tratar-se de uma linda coletânea musical, em que a poesia se mescla a conceitos filosóficos de rara beleza. Idêntico valor literário encontra-se nos versos seguintes, e é exatamente aí que o autor deixa em cada palavra sua uma dose excessiva da doce emoção. Há maturidade e inteligência nesses vôos da sua imaginação. E é ele mesmo quem nos diz: “de sua boca/ louca/ quebradiça como louça/ sai palavra pouca/ e rouca”. Também manifestou o confrade Maxs Portes sobre a obra da seguinte maneira: “O fazer poético, para Waldir de Pinho Veloso, é a síntese que traduz a vivência do Homem na in(cômoda) revelação de si mesmo. Portanto, entre sonhos e pesadelos, querências e doações, abandonos e acalentos, seu ato confissional torna-se em tradução afetiva entre o Homem e o Poeta – criadores na imprevibilidade do cotidiano, mas capazes de postarem-se (atentos) à porta da percepção, para o emocionado e mais puro exercício da Poesia”.
O livro de poemas Sabor Acre da Vida deveria ser uma obra poética de referência obrigatória nas salas de aula de nossa Universidade, tanto fora como dentro do debate crítico-literário. Certamente que todas as bibliotecas públicas da cidade, assim como também as Academias de Letras e o Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, deverão disponibilizá-lo para o deleite dos leitores. Por tudo isso, nem sequer me parece necessário dizer que o que a poesia de Waldir tem em comum é o fato de ser extremamente perfeita e bela. Entretanto, ela não chega a ter o transcedentismo de Dóris Araújo (A Dança das Palavras) e nem tampuco a exaltação ao amor de Denise Magalhães (Corpus).
“Certas pessoas nascem grandes, algumas atingem a grandeza, e sobre outras a grandeza se arremessa”, diz Shakespeare em “A Noite de Reis”. Waldir de Pinho Veloso pertence à primeira destas categorias.
Sabor Acre da Vida. Vida acre. Por que não és azul? E está dito tudo!