sexta-feira, 3 de julho de 2009

MEMÓRIAS DA INFÂNCIA


Dário Teixeira Cotrim

O confrade Reivaldo Canela, pessoa de quem sou admirador incondicional, emprestou-me o livro Memórias da Infância, do poeta Júlio César de Melo Franco. O livro traz ilustrações do renomado artista plástico Konstantin Christoff, fato este que somente valorizou e nobilitou a obra literária de Melo Franco, tendo em vista o prestígio e o sucesso que as suas pinturas vêm contabilizando ao longo do tempo. Nada poderia ser diferente, o resultado da união entre essas duas criações – de Melo Franco e Christoff – senão uma belíssima obra de arte. Por outro lado o trabalho Memórias da Infância nos faz lembrar do recente livro de nosso confrade Luiz de Paula Ferreira que também escreveu e editou, para a nossa felicidade, um excelente trabalho memorialista (Por cima dos telhados, por baixo dos arvoredos).

A escrita de Memórias da Infância é uma conversação. É um recontar de causos até então esquecidos no tempo. É um relembrar dos amigos de caçadas de “encontro” ou de “espera” e uma única pescaria acontecida no Poço das Antas, do rio Jabuticabas. Talvez, seja este livro uma análise na formação genealógica da parentela ascendente e descendente do ilustre poeta. Na verdade aqui se trata de um baú de reminiscências, onde estão guardadas as doces lembranças, e as mais distantes de que poderia imaginar o autor. Cantar e encantar a fauna e a flora do grande sertão do Urucuia também faz parte de suas dissertações.

É interessante notar que o velho Affonso Arinos ao escrever Pelo Sertão descreveu minuciosamente o Buriti Perdido do Urucuia. “No meio da campina verde, de um verde esmaiado e merencório, onde tremeluzem às vezes as florinhas douradas do alecrim do campo, tu te ergues altaneira, levantando ao céu as palmas tênues”. Melo Franco relembra com saudades do velho Affonso Arinos.

Na apresentação do livro diz o autor que tudo aconteceu em vista de um pedido de sua netinha Thalita. Pode ser. Entretanto, nenhum escritor-poeta gostaria de ver apodrecendo nas gavetas do menosprezo as suas inúmeras memórias. Apesar de tudo, se o livro de Melo Franco não é suficientemente saudosista, o assunto de que trata sem nenhuma dúvida o é. Para finalizar essas minhas considerações sobre a obra de Melo Franco, recorro-me agora o que disse seu amigo e prefaciador Cesário Termando Rocha: “Por fim, defrontamos com uma nota triste em suas Memórias, quando ele abre as válvulas do seu magnâmico coração e deixa jorrar toda uma tristeza, que lhe vem do pélago profundo de sua alma!... Fala da perda da querida filha Júnia, vencida por indomável enfermidade, ainda nos belos dias de sua carreira como professora do Conservatório de Música de Montes Claros. E, mais ainda, da moléstia, que a ele também veio aos poucos carcomendo e que logo após findas essas memórias o roubou de nosso convívio levando-o aos páramos ignotos da eternidade”.

Agradeço de todo coração ao amigo e confrade Reivaldo Canela a oportunidade, a mim prestada, de conhecer um pouco mais sobre a vida e a obra de Júlio César de Melo Franco. Acadêmico nas letras, Melo Franco ocupava a Cadeira de número 23 da Academia Montesclarense de Letras, como sócio fundador. No Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros ele é patrono da Cadeira de número 71. Veio a falecer “um mês depois de completar os seus 70 anos”, legando à posteridade um nome sobre todos os pontos de vista digno, um exemplo verdadeiro de honestidade, de saber, de cultura e de trabalho pelo bem comum.

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