sexta-feira, 3 de julho de 2009

NAS ÁGUAS DO RIO SÃO FRANCISCO


Dário Teixeira Cotrim

Acabei de ler um belíssimo livro: Nas Águas do Rio São Francisco. Há em suas páginas, de rica documentação, escritas com a objetividade de uma grande escritora e historiadora do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, a acadêmica Maria da Glória Caxito Mameluque, a vitoriosa trajetória do sertanista Marcelo Mameluque Mota e, também, o estudo digno de atenção sobre a origem da família Mameluque (de João Mameluque de Castro) e Mota (de dona Dízia da Mota Castro). Interessante, da mesma forma, notar a presença de traços históricos sobre a cidade de Januária e, em particular, sobre o antigo distrito do Brejo do Amparo. O leitor ainda encontrará – e passará para as gerações futuras – crônicas documentadas, uma vasta documentação, fotografais e depoimentos gravados sobre a vida e muitas outras histórias de Marcelo Mameluque Mota. Portanto, Nas águas do Rio São Francisco é um livro que deve ser lido e relido, e que precisa ser passado de pai para filho e, assim, sucessivamente.

A bem da verdade, este livro trata-se de uma bem elaborada autobiografia, com narrativas carregas de doces emoções e com minudências nas exposições dos fatos históricos desde a partida do homenageado do antigo Brejo do Amparo até os seus 50 anos de atividades nos 500 anos do Rio São Francisco - fato ocorrido no dia 4 de outubro de 2001. O saudoso Reivaldo Canela, no excelente prefácio que fez, disse “que a narrativa [do livro] acontece rica, com autenticidade absoluta, vinda da própria personagem, entrevistada pela escritora”. Em nada diminui o mérito da autora que procurou compilar textos, retratos e documentos de origens diversas sobre aquele que muito “laborou em prol de sua terra e seu povo”.

É dentro desse ethos, no qual com muita simplicidade e persistência que a autora projetou-se na busca das informações documentais sobre as origens das famílias Mota e Mameluque. Como se vê, neste livro há um capítulo todo especial sobre o coronel Romão da Mota, homem extremamente corajoso, que sozinho matou 99 onças-pintadas. A centésima onça-pintada lhe feriu no braço, o bastante para que o tétano não lhe poupasse a vida. É inegável que Marcelo é um exímio contador de causos, todos narrados com arte. Assim, nesse jogo lúdico de emoções e surpresas, em que forma um documentário de importância inquestionável para a história de Montes Claros e região, o livro Nas Águas do Rio São Francisco, pelos textos e pelas formas apresentadas pela sua autora, insere na linha mais autentica das biografias brasileiras.

Marcelo foi, com justiça justa, homenageado pelos confrades da ACLECIA: Academia de Letras, Ciências e Artes do São Francisco, quando disse em seu discurso de agradecimento o seguinte: “Posso dizer sem medo de errar que o rio São Francisco nasce na serra da Canastra, em Minas Gerais, e morre no oceano Atlântico, no Estado de Alagoas, mas antes em seu percurso, ele passa pelo meu coração com o tisnado barrento de suas águas, de onde destaco a sua mais extraordinária riqueza, que vem a ser sua gente, da qual faço parte, pois aqui vivo. Neste vale, dei o primeiro grito de vida, e com certeza darei o meu último suspiro”.

Foi muito gratificante a leitura que fizemos do livro da escritora Maria da Glória Caxito Mameluque – Nas águas do Rio São Francisco – sobre a vida exemplar do seu ilustre cunhado, o doutor Marcelo Mameluque Mota. E, finalizando as nossas despretensiosas considerações queremos congratular com os amigos Silvana e Athos Mameluque pelo legado de bons costumes que o seu pai ainda hoje nos oferece na sua simplicidade de homem de retidão intocável, inteligente e bom proseador.

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