sexta-feira, 3 de julho de 2009

O RANCHO DA LUA E OUTRAS MEMÓRIAS


Dário Teixeira Cotrim

Memórias do Rancho da Lua é mais um livro ousado e que certamente causará polêmica assim como todos os outros livros de Amelina Chaves. A narrativa é quase uma conversa ao pé de ouvido, ela é mansa, é tranqüila, sussurrada e sem os (pre)conceitos ainda existentes na sociedade em que vivemos. O assunto aqui tratado é a controversa da prostituição, nua e crua, quando esta ainda encontrava-se na sua virgindade absoluta para os adolescentes menores de idade. Mas, de outro modo, para os homens, a sociedade aceitava-os nos prostíbulos com íntimas reservas nos diversos segmentos da família-comunidade. Portanto, Memórias do Rancho da Lua desnuda fatos passados e nunca dantes revelados do circuito entre Francisco Sá e Montes Claros ou em sentido inverso. Acima de tudo, este é um livro que nos revela a intensa preocupação da autora em resgatar a vida boêmia do povo brejeiro, não obstante os seus objetivos serem difíceis de ser atingidos em vista os desencontros das idéias preexistentes no cenário cultural de agora.

É, também, um importante relato os acontecimentos dos primeiros tempos da prostituição que, vistos através dos olhos de Amelina Chaves, uma brejeira oriunda de família simples e dona de uma rara sensibilidade, os faz sem falso pudor. Na verdade são os anjos anândrios que iluminam a escrita picante e adversa da autora, isentando-a de culpas e das desculpas pelo seu temperamento estranhamente introspectivo. Já se vê que é mais sério tocar em feridas cicatrizadas que numa horrorosa hemorragia que nunca se estanca.

O livro, além desta nossa modesta contribuição, ainda traz prefácio do ilustre historiador montes-clarense Haroldo Lívio que, descreve os dourados anos do Rancho da Lua com detalhes sutis, sem, sequer, ofender a dignidade dos personagens ali envolvidos. Então, aí está de que modo a história executa as suas passagens mais interessantes.

Por outro lado, esta interessante narrativa sobre a prostituição brejeira se inicia com um breve comentário sobre as origens da vila de São Gonçalo do Brejo das Almas (Francisco Sá), trazendo no seu bojo a saudosa zona boêmia do Rancho da Lua. É lembrada a figura ilustre de Zezim Trindade, um exímio contador de causos. Também a acadêmica Amelina Chaves enfoca a casa amarela, os cassinos e os admiráveis bordéis de luxo que são retratados com minudência pela autora para o deleite de seus notáveis leitores. É, pois, Amelina Chaves uma daquelas escritoras que sabe como ninguém explorar temas proibidos. È necessário saber sonhar sonhos impossíveis! O choque de idéias neste caso é tão somente o confronto sócio-ecônomico-político e sócio-cultural – presentes no texto – que são um elemento enriquecedor e determinam o impacto imprevisível que o livro, certamente, poderá (com)prometer. Será sempre assim porque não existe e nunca existiu nenhuma sociedade organizada sem prostituição.

Portanto, recomendamos a leitura deste livro, pois se trata, como já dissemos inicialmente, de uma viagem através dos tempos em que a prostituição era vista como essencial e que agora se trata de um roteiro básico para o aprofundamento da questão que é de suma importância para a nossa sociedade. Allan Poe dizia que toda obra que não pode ser lida de uma única vez fica prejudicada por intervenções externas, e que acabam destruindo a sua verdadeira finalidade. Neste caso, não só recomendamos como também insistimos que a leitura deva ser completa e prazerosa. A autora deixa uma mensagem de esperança quando finalizando a sua obra, afirmando que a necessidade de escrever é a única mola que impulsiona a utopia.

Um comentário:

  1. Eu lí.Esse livro conta a história do Rancho da lua ,considerado uma zona de luxo.Frequentado pelos cornéis,delegados enfim pessoas ilustres da região.Dizem q o Juscelino esteve de passagem por lá.

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