sábado, 1 de agosto de 2009

MEU RELICÁRIO


DÁRIO TEIXEIRA COTRIM

Não poderia ser outro o nome de batismo do livro de Artur Fagundes: Meu Relicário. Pois é o seu livro o lugar próprio para guardar as relíquias do tempo pretérito. Os guardados mais preciosos e de valores imensuráveis que são os seus belíssimos poemas de vida. O livro traz na capa a impressão lógica do classicismo, com detalhes oriundos dos antigos capitéis gregos, o que nos ocorre a uma sensação de forte erudição no processo da arte literária. Aliás, o poeta Arthur Fagundes é um verdadeiro homem-erudito, uma vez que os seus poemas retratam com sabedoria e elegância os valores das lembranças eternas e as saudades de um tempo que agora está tão distante. Ele se apresenta num estilo ideal da comunicação, poderia dizer-se da poesia de Fernando Pessoa, pelo qual o leitor passa a ser parte integrante de sua ação poética, porque o que o poeta diz encharca-se numa verdade de vida de cada um de nós.

Quem, ao ler com ávida degustação os poemas de o Meu Relicário, não voltará pelo pórtico do tempo? Quem não se emocionará das recordações prestigiosas na magia desta leitura? Quem não se sensibilizará com a dor da perda num soslaio de sombras, ou com a alegria da conquista? Assim é o livro do poeta Arthur Fagundes. Na medida em que nos aprofundemos na leitura dos seus poemas, novas e interessantes descobertas vão sendo reveladas para o nosso doce entretenimento. Dentre elas a de que o prefaciador, o acadêmico Adherbal Murta de Almeida, nos avisa com extrema segurança de que “a sabedoria e a beleza literária dos 117 sonetos de Dr. Arthur Fagundes [que] estão guardados dentro do livro Meu Relicário, me pertencem de agora em diante”. Para ser mais justo, estes sonetos pertencem na verdade a todos os seus diletos admiradores.

Com a publicação do livro o Meu Relicário ganha o leigo-poeta, também os apreciadores da boa literatura e mesmo os membros das academias de letras, todos interessados em se informar um pouco mais na dança de suas palavras. A obra de Arthur Fagundes não se esgota em assuntos meramente pessoais e nem tampouco na beleza das palavras senão na sua essência intrínseca. Em nenhum momento ele atropela a língua portuguesa, ou viola os aspectos sagrados da comunidade social. Expende que perdeu o pai ainda quando criança, “mas ficou (...) o exemplo que [ele] deixou para não fenecer a semente que plantou”. Tem razão João Guimarães Rosa quando diz que “as pessoas não morrem, ficam encantadas”.

Por outro lado, o livro é a forma mais utilizada para garantir a plena e longa imortalidade. Portanto, sentimos que esta obra tem muito de afinidade com a nossa existência, que sempre resultou de lembranças de coisas do passado, principalmente da nossa saudosa infância. O que há de mais importante, entretanto, é o exemplo de vida que o autor oferece aos seus leitores. Assim, a proposta dos seus poemas tende a fluir magistralmente ao nosso redor na impaciência de concretizar sonhos e mais sonhos. “O sonho é fugaz, é passageiro, é vão. A gente quando sonha, sonha o que viveu, mesmo na idade que o tempo feneceu, porque a lembrança que recorda é ficção”.

Confesso que li demoradamente o livro Meu Relicário. Viajei mansamente em suas lindas páginas. Emocionei-me fortemente nos textos e nos contextos da obra. O poeta Arthur Fagundes será recompensado por ter nos oferecido este belíssimo presente de vida! O seu relicário será o nosso relicário na festividade literária da própria vida. Isso eu afianço!

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