segunda-feira, 8 de junho de 2009

AS MANGUEIRAS DE DONA ZEZÉ - Pedro de Oliveira


Dário Teixeira Cotrim

O que mais nos agrada em elaborar crônicas literárias é, sem sombra de dúvidas, o prazer de uma boa leitura. Agora mesmo, estamos novamente lendo mais um livro de belíssimos poemas e de excelentes crônicas. É mais um livro do acadêmico Pedro de Oliveira que retrata com a máxima fidelidade dos fatos, as reminiscências d’As Mangueiras de Dona Zezé. Em estado de emoção lúdica, ou em nível edênico, a escrita solta, livre e lépida de Pedro de Oliveira tem o poder de transportar o leitor, não para um futuro promissor como assim desejaria o distinto leitor, mas para a época pretérita de cada leitor no seu espaço temporário. As reminiscências são um acinte, sobretudo se a elas se aliam à saudade oriunda das boas lembranças. Vale reportar, ainda, o que disse o autor neste seu livro, ao afirmar que “há quanto tempo que passou.../ eu ainda era criança/ tempos idos/ de minha infância...” ou “Nos meus tempos de criança/ era um garoto de pouca fé/ mas perdia a estribeira/ por uma manga no pé” ou, ainda, “Tempos idos de minha infância/ e de tantos jovens da Palma/ que hoje guardam na lembrança/ bons tempos de uma cidade calma”. Ora, o tempo melhor que temos na vida é sempre o tempo perdido.
De qualquer forma, a saudade absoluta existe para ser violada, superada e conquistada nos seus limites de (in)tolerância. Somente sobrevive por assim dizer se não a procuramos num reencontro das lembranças. Disse Catulo da Paixão Cearense, no seu poema Flor da Noite, que “tudo passa neste mundo só a saudade é que fica”. Portanto, o que faz o nosso poeta Pedro de Oliveira é alimentar as saudades que ficaram com as suas crônicas e os seus poemas. Assim ele faz porque assim é mais gostoso de escrever. O recordar d’As Mangueiras de Dona Zezé, do velho educandário “Paulo Ferreira”, da fábrica de pinga Sanguinette, do Gran Circo Sul Americano, da roça de Seu Zezinho e de tantas outras situações e ocasiões do tempo de meninice é o que mais importa, pois, somente se sobrevive por um período medido por um instante, ou por um momento e nada mais.
Todas as lembranças do livro As Mangueiras de Dona Zezé podem ser alegóricas. Aliás, relembrar causos e/ou contar causos é o mesmo que incentivar uma ação fictícia incrustada na memória de quem assim o faz. Pois bem, quem conta um conto aumenta um ponto. Entretanto, com a facilidade que tem o autor em construir versos e crônicas, as eventuais falhas de lembranças nunca lhe serão creditadas para macular a sua obra, uma vez que a superação dos fatos contados e recontados justifica a sua escrita. Mas, para quem aprecia, preferencialmente, a utopia lírica e a prosa moderna, experiências formais de um conteúdo literário da contemporaneidade, certamente saberá viver, reviver e conviver com os momentos mais sublimes da escrita de Pedro de Oliveira.
A viagem no tempo não pára por aí. As tradições e os costumes agora estão presentes no animadíssimo carnaval do Clube Social de Várzea da Palma; nas festas juninas organizadas por dona Conceição de Ávila no grupo escolar, com barraquinhas e pau-de-sebo; no natal em família, um raro momento de oração e fé. Não é mais tempos de terra árida e tórrida. O fenômeno da seca é tratado com as conseqüências humanas e sociais dele advindos, mas agora a terra está molhada. Por isso o livro As Mangueira de Dona Zezé, do acadêmico Pedro de Oliveira, darão bons frutos. Pelas emoções contidas nas letras poéticas de Pedro de Oliveira, o livro As Mangueiras de Dona Zezé sabe cumprir a sina de fazer criar o hábito da leitura nos mais jovens, convidando-os para o vôo dos sonhos ao som do seu canto de amor e saudade à infância perdida.

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