domingo, 7 de junho de 2009

O PRIAPO DE ÉBANO - Amelina Chaves


DÁRIO TEIXEIRA COTRIM

Poucos escritores em Montes Claros causaram tanto escândalo em seu tempo, e mesmo além dele, quanto à menina-sapeca-do-sapé, que continua a ser a grande revelação da literatura-erótica de nossa cidade. Não só a sua poesia de imagináveis desejos andrógenos como também os seus romances e contos-erotizados, os que são sempre premiados em concursos literários por esse Brasil afora. A sua obra em questão – o Priapo de Ébano – é composta desses contos-erotizados, não obstante haver neles uma visão sublime da curiosidade alheira sobre as relações amorosas das pessoas, pois ela (a autora) sabe do que faz e sabe o que fala, transcende na paixão amorosa como quem pinta seus tipos e seus personagens ao sabor das deificadas fantasias sexuais. Pode-se dizer que a sua escrita é a demonstração de que não nos faltam elementos para glorificar o mundo literário, edificando a mulher consciente do seu papel na sociedade de sua época que, a todos nós contagia com encantamento.

O que havia antes de Amelina Chaves em termos de romance resumia-se nos livros romanceados por Corby Aquino e também o mestre Cyro dos Anjos. Muitos pensavam que a conheciam. Outros, simplesmente a ignoravam. Quando muito se tinha dela uma imagem estática e fria de mulher talentosa na escrita. “Amelina Chaves é mulher inquieta. Não se dá ao sossego”. Deslinda com muita propriedade o jornalista Manoel Higino dos Santos. O ilustre acadêmico Wanderlino Arruda, por sua vez, confessa que: “a cada dia fico mais e mais encantado com o texto de Amelina Chaves”.

Nesse contexto romanceado a acadêmica Amelina Chaves ainda escreveu o Diário de um Marginal “onde os abutres humanos disputam um corpo para praticar torturas, como se cada um quisesse devorar o pedaço preferido. Uns têm preferência pelo sexo, como os tarados e maníacos sexuais. Outros, pelos braços e pernas, em cada mente diabólica há um sadismo diferente”, conforme as suas próprias palavras. È impossível ignorar a importância de suas obras junto ao grande público.

O livro O Andarilho do São Francisco é sem dúvida um divisor de águas na história dos romances literários de Montes Claros.

Por outro lado, o livro Priapo de Ébano aborda outras tantas passagens surpreendentes que fariam explodir as equivocadas convenções sociais de sua época, mas apresenta estas mesmas características. Em suas páginas estão os momentos preciosos da vida íntima de cada um de nós. E como são belas e verdadeiras as palavras pronunciadas no silêncio da noite! Palavras que nos dão uma dimensão lógica da nossa doce intimidade. Vejamos: “com a leveza de uma sombra, percebi que o vulto se agachou na beira da cama, levantando o lençol que me cobria, senti mãos grosseiras me tocando começando pela cova dos meus pés”. É preciso prestar um pouco mais de atenção nas palavras que correm de página a página até o final do último conto.

Nós que conhecemos profundamente a vasta obra da autora entendemos que este livro será a remissão do pecado contido em O Câncer da Vingança. Não há aqui aquele momento infeliz, quando a linguagem explicita da autora veio machucar e magoar os indefesos réprobos do sexo. Com os mitos derrubados, agora vivenciamos uma nova etapa com o romance-de-alcova. Original e voluptuoso. Em o Priapo de Ébano a autora desmascara sem falso pudor, seja com as suaves garras das necessidades ou com as ríspidas carícias de que necessita o livro, esse romance-de-alcova. Assim, a obra de Amelina Chaves nos revela um rosto de capa que se identifica com a sua verdadeira personalidade. Para a autora essa concepção do erótico libertário não se constitui somente na maneira de representação literária da excitação incontrolável do turgescente priapo de Ébano. Uma outra forma encontrada na recuperação do caráter erótico está na experiência primária da sexualidade vista como um fator de transformação do próprio ser humano. E tudo é feito com muito amor e carinho! Com muita ternura e muita coragem, evidentemente!

E é por isso que Amelina Chaves escreve contos-erotizados. Escreve como se ela mesma fosse ainda um pouco de seus muitos personagens. As expressões descritas em cada capítulo retratam o seu jeito de falar e a sua maneira de ser e de entender. É preciso que se saiba que ela concretizou neste livro as fantasias mais loucas, as que ninguém jamais atreveria sequer a imaginar. Ao relatar essas histórias, a escritora evidencia várias questões pertinentes à discussão do gênero mágico do erotismo. Desta forma, este livro tem como objetivo romper as barreiras de um preconceito ultrapassado contra a mulher que se diz estar à frente de seu tempo. Dir-se-ia que seu livro transformou-se num leito de amantes ao qual, além deles, só tem acesso os seus diletos leitores. A linguagem dos contos-erotizados que compõem este livro tenta agredir alguns leitores e cria um estado de choque dentro da sociedade em que eles vivem.

É de justiça lembrar que alguns romancistas escrevem com a pena de escrever sem deixar impregnar-se no texto o sentimento de sua paixão. Outros desprezam a pequena esferográfica e escrevem somente com o coração, inundando as suas paixões no limite das doces volúpias. Entretanto, a escritora Amelina Chaves escreve com o coração e com a alma. Assim, ela vai muito mais adiante. Além de desabrochar o fogo que lhe queima a carne; além de arrebentar os grilhões que lhe pesa a consciência ainda faz com que os seus leitores se imiscuem nas aventuras eróticas aqui descritas. Até porque, de uma forma ou de outra, somos todos parte comum de seus belíssimos textos. A sua capacidade de criação e, acima de tudo, a sua profunda penetração no sentimento de cada leitor parece ser o bastante para sobrelevar a todos o pornografismo libertino da escrita.

Por isso, ela tudo arrisca em nome de uma doce alacridade o que não lhe deixa ser a busca de um comportamento erótico sem o peso e a medida do ético-imoral. A sua poderosa inspiração e a precisão na linguagem romanceada ficam-lhe atreladas na capacidade criadora de sua alma. Enfim, o mundo literário em que vivemos nunca mais será o mesmo depois do livro Priapo de Ébano. Um livro escrito por Amelina Chaves. Vale a pena lê-lo! Ainda hoje.

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