domingo, 7 de junho de 2009

O MITO DA CACHAÇA HAVANA / ANÍSIO SANTIAGO - Roberto Carlos Morais Santiago


DÁRIO TEIXEIRA COTRIM

Quem bem conhece o historiador Roberto Carlos Morais Santiago, quem conversou e quem compartilhou de seu entusiasmo, sempre presente em cada uma das páginas do seu influente livro: O Mito da Cachaça Havana – Anísio Santiago acaba por enaltecer acima de tudo o seu amor e a sua dedicação na valorização do trabalho deixado aqui pelo seu saudoso avô, o fazendeiro Anísio Santiago. Como se vê, a obra que ora prefaciamos é uma promessa da força criadora imanente nas idéias que o autor expende. A sua brilhante obra o projeta para muito além da querida terra que o viu nascer. Poder-se-ia dizer também que se trata de um livro sui generis, pois não há outro que trate com esmerado carinho deste mesmo assunto: a superior aguardente de cana da Fazenda Havana – Município de Salinas.
Ao leitor desatento pode até parecer que o mito da cachaça Havana somente tem lugar numa vala-comum da sociedade assim como os nossos sonhos; contudo, aquele afeito às elucubrações filosóficas facilmente desenredará de que este mito se trata de um fantástico relato sobre a importância da preservação de um produto e também da memória do seu ilustre produtor. Disse-nos com muita propriedade o autor que o seu avô Anísio Santiago “era [uma] pessoa que não gostava de se expor. Sempre procurou levar uma vida reservada, serena e humilde. Entretanto, era uma pessoa observadora, metódica e extremamente detalhista”. Infelizmente uma surpresa atroz estava-lhe reservada. Era a disputa da marca Havana pela empresa Havana Club Holding desde 1994. Entrementes o autor reúne toda documentação a cerca do assunto para uma breve comunicação de alento: por justiça o rótulo Havana está de volta ao mercado brasileiro.
Poderão até encontrar os amantes da cachaça neste excelente trabalho de pesquisa um compêndio de estatística metodológica, um tratado de estatística pura, e até mesmo um livro elementar de fórmulas matemáticas, por simples que fossem, as quais se justificariam ante os objetivos visados pelo autor. Ao passo que não é tão somente desta forma que o livro de Roberto Carlos foi concebido, com certeza! Evidentemente que esses elementos estão inseridos no contexto do trabalho do neo-acadêmico Roberto Carlos porque são eles imprescindíveis. Era, pois, necessário que fosse assim para que a inquietação dolorosa do descaso lhe não viesse obnubilar a memória fecunda das sublimes recordações.
Na verdade o presente livro constitui também de um momento histórico – o histórico seguro e o histórico completo – de onde surgiu a cachaça no território brasileiro e, principalmente, a sua origem e a origem da sua querida Salinas. No foco central de sua obra o autor nos explica como, artesanalmente, a aguardente é destilada e o sucesso que ela alcançou no mercado nacional e internacional. O ideal de Roberto Carlos pode, talvez, resumir-se neste quesito: o de ensinar os catrumanos a encarar os problemas triviais, suscitados pelo progresso das ciências, fazendo-os que tenham uma visão plena e real do presente, e não mais aquela perspectiva do passado. Na verdade, na primeira parte do livro o caminho segue essa direção.
Por outro lado, constitui o presente livro: O Mito da Cachaça Havana – Anísio Santiago um completo repositório de história e estórias àqueles que têm paixão e que apreciam, literalmente, a cachaça brasileira. O mais comezinho espírito de justiça manda reivindicar os triunfos desse notável homem público. Por isso o Instituto Brasileiro da Cachaça de Alambique – IBCA, a Associação Mineira de Produtores de Cachaça de Qualidade – AMPAQ e o SINDBEBIDAS/MG (FIEMG) lançaram na VI EXPOCACHAÇA – Feira Internacional da Cachaça, o prêmio Excelência da Cachaça Anísio Santiago.
Numa segunda parte deste livro, já que podemos dizer assim, o autor reserva espaço para as opiniões acerca do assunto adrede proposto. Personalidades ilustres falam sobre a cachaça e o seu produtor. É explorado com exaustão o benefício que a cachaça legou ao município de Salinas e, principalmente o seu desenvolvimento econômico e social. Também diríamos que o livro encerra com uma coletânea de artigos e reportagens publicadas nos diversos jornais e revistas do país.
O livro de Roberto Carlos não é uma obra genuinamente literária. Essa é, talvez, uma impressão equivocada minha. Mas, no primeiro momento eu o vejo como sendo um compêndio histórico de valorosa documentação e relatos sobre a maturação da cachaça artesanal no município de Salinas, onde o autor procura resgatar as tradições inerentes à produção de uma boa cachaça.
Todos aqueles que desejam criar algo de novo, imperecível, precisam, antes, mesmo de mais nada, tê-lo vivido intimamente. Pois foi neste clima festivo em que o caldo de cana era fermentado nos tachos de madeira e destilados em alambiques de cobre que o autor abriu os olhos para o mundo. As reminiscências de sua infância misturam-se agora aos bagaços de cana espalhados em um lugar qualquer do quintal, enquanto isso, o ranger do engenho traz de longe as mais belas lembranças de um passado tão presente. Não me arrisco em afirmar que na feitura deste livro quantas noites foram consumidas em vigílias, em cilícios espirituais, e no imo poder-se sentir que o sucesso do seu empreendimento valeu a pena. Sempre tenho, aliás, sustentado que ninguém é isto ou aquilo porque quer, mas porque as suas tendências nestes sentidos são irresistíveis e insuperáveis. Portanto, acredito que Roberto Carlos não escreveu este livro por acaso, mas tão somente porque em suas veias corre o sangue de um homem justo, trabalhador, persistente e honrado: Anísio Santiago.
O sucesso do livro de Roberto Carlos Morais Santiago, acrescido do prestígio incondicional do nome ‘Anísio Santiago’, tudo isto vem mais uma vez provar que a cachaça Havana será tanto mais universal quanto mais nacional. Um produto de nossa terra que já cruzou os limites internacionais e certamente que continuará neste caminho por uma eternidade. Por conseqüência, a marca Havana será tanto mais brasileira quanto mais salinense, pois ela representa o que de melhor existe na industrialização da aguardente nacional.
Neste contexto solicitamos ao historiador Roberto Carlos Morais Santiago e a sua família que não esmoreçam na tarefa que realizam e da qual só podem advir benefícios para o povo da nossa querida cidade de Salinas.

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