domingo, 7 de junho de 2009

POESIAS - José Rametta Santos


DÁRIO TEIXEIRA COTRIM

È irrefutável que a automatização da internet nos dias modernos tende a desenvolver uma nova postura nas publicações de livros. Hoje, os poetas garimpam gavetas abarrotadas de escritos, registrando-os em sites e blogs para a posteridade. Outra coisa não era para se esperar dos leitores que também mudaram de perfil, agora eles se adaptam as normas usuais da telinha para a leitura da poesia virtual. Realmente, é em nome dessa modernidade que os livros tornam-se, cada vez mais, escassos.

Mas, retrocedendo ao tempo, vasculhei as minhas prateleiras de livros raros e encontrei uma preciosidade: um belíssimo livro de poesias de autoria do médico José Rametta Santos. Este livro é uma publicação já fora do mercado, tendo sido lançado pelo selo editorial dos “Irmãos Pongetti Editores”, na cidade do Rio de Janeiro, no ano de 1957, quando a cidade de Montes Claros festejava o seu primeiro centenário. O poeta não granjeou para si o destaque de outros escritores montes-clarenses, embora a sua produção literária se nivele, em talento e em criatividade, a quaisquer outras obras que integram ao círculo acadêmico de nossa cidade.

Na análise que fizemos de seu livro “Poesias” percebemos que há uma influência muito forte do romantismo na sua poesia. É assim porque os seus poemas apresentam sempre com excesso de lirismo sem, contudo, diminuir ou desvalorizar a sua qualidade literária. Os tropos e as imagens que produziu deram á sua vergôntea do amor um caráter singular, raramente visto, o que impressionou os seus pares desde a introdução da obra até a sua conclusão.

Destarte, numa análise mais aprofundada, notamos com clareza que os seus poemas sofreram uma influência da escrita dos mais expressivos poetas brasileiros. Castro Alves que iniciou o seu poema Gondoleiro do Amor, dizendo: “Teus olhos são negros, negros/ como as noites sem luar” lembra-nos o Fagundes Varela na parte IV do poema Juvenília afirmando que os “–Teus olhos são negros, – negros/ como a noite nas florestas”. Na seqüência, notamos também que o poeta Gonçalves Dias inicia o seu poema Olhos Verdes dizendo que “são uns olhos verdes, verdes/ uns olhos verdes de verde-mar”, o que confunde com o poema que traz por título o Teu Olhar, do nosso Rametta, que exprime da seguinte maneira: “Teus olhos são verdes como a cor do mar...”.

Devemos entender que não há aqui a figura do plágio poético. Isso acontecia, e ainda acontece, sistematicamente com os poetas românticos. Existem outros exemplos que não os exploramos para não alongarmos em nossa modesta crônica. Entretanto, numa observação acadêmica sobre as obras de Rametta, disse-nos a professora Yvonne de Oliveira Silveira que “os versos que compõem o livro – Poesia – da juventude, influenciados por Fagundes Varela, Teófilo Braga, Castro Alves e outros, mostram o lirismo romântico que informa todos os jovens, mesmo depois do Parnasianismo”.

Mesmo assim, o primeiro livro de Rametta é considerado um pecado pelo próprio autor, o que ele sempre quis que fosse. De outra parte, afigura-lhe muito bem a adjetivação de “romântico”, certamente é essa a melhor que existe no seio da literatura jovial e que é indubitavelmente um achado precioso dado o que contém em sua obra de amor-implícito e de beleza-pura. São versos lenindo feridas passadas.

Na abordagem que fazemos agora é apenas para despertar em você, leitor, o desejo de procurar adquirir, de uma forma ou de outra, esses três momentos excepcionais do poeta José Rametta Santos: Poesias, Os meninos do Sapé e Vôo Cego. Por isso mesmo ninguém deverá, por certo, desconhecer este poeta principesco das letras acadêmicas de Montes Claros, autor de belas poesias e todas elas tão cheias das nossas próprias ansiedades. Perguntado ao autor no Prólogo do livro por que ele escreve poesias, disse-nos que não saberia responder, mas no final afirmou-nos categoricamente que os seus primeiros versos não serão os últimos. É o que esperamos.

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