segunda-feira, 8 de junho de 2009

MONTES CLAROS: HISTÓRIAS DO REY - Reynaldo Velloso Souto


DÁRIO TEIXEIRA COTRIM

As surpresas da vida são muitas vezes fatos alvissareiros que nos trazem alegria e satisfação. Assim conheci o cronista Reynaldo Velloso Souto, num encontro casual quando filosofava com o ilustre escritor José Luiz Rodrigues em uma mesa acadêmica. Da nossa prosa primeira percebi que Reynaldo não é nenhum desses intelectuais chatos, excêntricos e, muitas vezes, exibicionistas que a gente costuma vê por aí. Equilibrado nas suas colocações, a mim me revelou conhecimentos de minha saudosa terra. Pois, o neo-acadêmico tinha trabalhado por lá, no extinto D.N.O.C.S, durante a construção da Barragem de Ceraíma, onde fora colega de Antônio (Bonfim) Medrado, José Alves de Sá, João (João Rico) e os seus irmãos Bento e Almeida Ciriaco dos Santos, Hibelmon e Idália Pereira Santos e os irmãos Osmani, Sebastião e Edvaldo (Nena) Teixeira Malheiros entre outros.
Desse nosso momento primeiro nasce uma amizade promissora.
A conquista de um lugar ao sol é, às vezes, uma tarefa hercúlea, que a muitos intimida, restando a eles somente a desesperança e o desencanto. Entretanto, aqui não é o caso de Reynaldo que pela sua inteligência e a convicção efetiva da realização de um sonho, repleto de aspirações, não se intimidou e ainda trouxe, a lume, uma excelente obra literária que foi gerada de suas verdes lembranças. Agora, as suas crônicas são registros numa seqüência contínua de ações e conceitos, entre os entretenimentos de um passado glorioso e o labor de uma vida vitoriosa.
Disse, no prefácio do livro, o jornalista José Jorge Nunes Silveira que “dessa nossa terra, hoje com ares de capital, mas que já teve cheiro e gosto de cidade pequena, onde todos se conheciam e eram verdadeiros amigos”. Tem razão o jornalista Jorge Silveira, não obstante o que nos cerca é tão somente ódio e violência, aqui todos se conheciam e eram verdadeiros amigos. Estamos sempre ouvindo referências desairosas à vida. Os livros devem trazer no seu bojo um cabedal de otimismo e uma boa dose de humor, assim como fez Reynaldo, e nunca a apologia ao ódio e a violência.
Trata-se de uma verdade: é que vivemos em um mundo de céticos.
Para resgatar um pouco a credibilidade histórica de Montes Claros, lembremo-nos, pois, com muitas saudades, do antigo Mercado Municipal e da vetusta igreja do Rosário que foram retratados pelo eminente artista plástico Godofredo Guedes. A esperança tem, contudo, uma condição: que se evite destruir ainda mais o patrimônio histórico de Montes Claros.
É bem verdade que Reynaldo conquistou um lugar de destaque entre os nossos melhores cronistas, os mais expressivos e os mais estimados de todos. E ele o fez por merecer isso, pois, o seu livro é um imenso repositório de gratas reminiscências. É uma viagem ao passado vivido em quase meio século, onde os seus jovens leitores encontrarão um retrato de uma juventude rebelde dos anos dourados e os mais velhos poderão relembrar – com alegria – as suas próprias peripécias de meninos trelosos.
Mas ele não o realizou sozinho. Houve, nesse universo, a participação de muitos daqueles que o admiram. Pelas páginas ricas de conteúdo humano, também pela graça de seu estilo e a opulência de sua escrita singular é que possamos avaliar a grandiosidade do trabalho literário de Reynaldo. Mesmo antes de ser editado ele já fazia sucesso numa legião de admiradores, leitores sinceros e sedentos de conhecer um pouco mais da história antiga de Montes Claros.
As crônicas hilariantes de nossa terra têm em Reynaldo um de seus cultores. A presente obra evidencia a sensibilidade do autor para os detalhes e as minudências de um passado memorável, através dos quais consegue reviver, com grande habilidade e êxito, os grandes momentos do cinema São Luiz, do Bar Sibéria, do restaurante Espeto de Ouro e tantos outros point da juventude montes-clarense daquela época.
Trata-se, pois, neste livro, de um retrato admirável dos anos dourados com toda uma seqüência de personagens, a exemplo do saudoso Leonel Beirão de Jesus: o inventor da fantástica Boneca do Leonel. Ora, quem não se lembra da Boneca do Leonel anunciando as “liquidações” das casas comercias de Montes Claros, pelas ruas da cidade? Quantas saudades... Ó quantas!...
É sem dúvida o livro de Reynaldo um destes livros indispensáveis numa boa biblioteca brasileira.

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